O negócio das importações de veículos novos e usados voltou a ganhar fôlego apesar de as vendas serem ainda muito baixas. As concessionárias travam uma batalha com a “invasão” do mercado das marcas chinesas, com preços mais baixos. Este ano, as vendas não deverão ultrapassar as 5 mil unidades.
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A geografia da importação de veículos mudou e a China já é o maior fornecedor de carros novos e usados ao País, destronando os mercados tradicionais como os Emirados Árabes Unidos, Bélgica, Japão, Coreia do Sul e Portugal.
Contas feitas com base nos dados da Agência Reguladora de Certificação de Carga e Logística de Angola (ARCCLA), em 2021, ano que marca o fim de um ciclo de cinco anos consecutivos em recessão económica no País, foram importadas 17.342 viaturas novas e usadas, um aumento de 134,4% face a 2020, quando foram importados apenas 7.400 veículos. Dessas 17.342 viaturas importadas, segundo os dados da ARCCLA, vieram 4.517 carros da China, equivalente a 26% do total de veículos que entraram pelos portos angolanos. Já no primeiro semestre deste ano, a quota de veículos automóveis com origem na China foi de 21,2%, com 2.980 unidades em um total de 14.029.
Este ano em que o Governo aponta a um crescimento de 2,7% do PIB e o FMI a 3,0%, os números da importação de veículos são promissores, com os operadores do sector automóvel a acreditar que pode ser melhor que 2021, isto porque só nos primeiros seis meses já deram entrada no país 78% do total de carros que entraram em todo o ano passado. A importação de viaturas da China não quer dizer necessariamente que são concessionárias chinesas que depois fazem a comercialização em Angola, uma vez que há marcas daquele país asiático comercializadas cá por empresas de outros países.
A ascensão da China ao topo dos maiores fornecedores de carros para Angola levanta preocupação no seio da classe empresarial do sector automóvel, sobretudo para as concessionárias que afirmam estar a operar em concorrência desleal face às marcas que importam viaturas daquele país, uma vez que as viaturas chinesas muitas vezes são réplicas mais baratas de carros de marcas tradicionais.
Assim, a ascensão da China significa que o consumidor angolano procura cada vez mais viaturas com preços mais acessíveis do que aqueles que são praticados pelas marcas tradicionais, que se defendem argumentando que os carros chineses são de qualidade inferior. E à medida que a economia vai crescendo é expectável que aumente a procura por viaturas, o que se tem estado a verificar desde 2021 em que foram vendidos 3.876 carros novos contra os 2.406 vendidos em 2020, naquele que foi o pior ano de comercialização de viaturas novas em Angola nos últimos dez anos.
Uma fonte da Associação dos Concessionários de Equipamentos de Transporte Rodoviário e Outros (ACETRO) explica que a recuperação do mercado é uma realidade depois de seis anos consecutivos de contracção, mas a crise ainda se faz sentir sobretudo na classe média. “O mercado automóvel angolano chegou a níveis muito baixos nas importações e a cerca de 5% nas vendas de 2014. Pelo que tudo indica, iniciou-se um ciclo de recuperação em 2021 e esperamos que este ano seja muito melhor nas importações e nas vendas”, disse a fonte, adiantando que, em relação à importação de carros da China, existem ainda “muitas zonas cinzentas no negócio praticado”.
A fonte entende, por outro lado, que o mercado oficial é muito curto e está cada vez mais fragmentado por uma feroz concorrência do informal, onde se enquadra a forte concorrência de viaturas chinesas e não só, com preços que não são “justificáveis”. E pede maior atenção por parte da Administração Geral Tributária (AGT) no que toca à importação de viaturas da China. Lembra, por outro lado, que é fácil importar, abrir uma loja e vender em Luanda. “O difícil está em ter peças e acessórios, oficinas e fazer a manutenção em grande parte do País”, refere a fonte, avançando que o Governo deve tomar posições para defender os seus impostos, porque as empresas que reúnem as condições estabelecidas na lei, os concessionários oficiais, nada podem fazer.
Os indicadores do mercado apontam para uma marcha das importações de carros em recuperação, mas ainda muito distante dos níveis atingidos em 2014, ano em que os empresários do sector automóvel apontam com o ano do “boom” da importação de veículos. Em 2014 o País importou 133.876 carros novos e usados de categorias diferentes. Entre 2014 e 2021 a importação de veículos caiu 87,0%, fixando-se nos 17.342 carros de diferentes categorias que entraram em Angola. Já em termos homólogos, as importações cresceram 134,4%, para 17.342, unidades.
Maiores importadores
No top dos maiores importadores, segundo os dados da ARCCLA, em 2021, estão a Chinangol, com 3.218 veículos, liderando a lista, seguindo-se a Sicomex – que pertence a cidadãos de origem libanesa mas com nacionalidade da Serra Leoa, de acordo com o Diário da República – que importou 1.979 carros de categorias e marcas diversas. Já a multimarcas Sogepower, com 952 unidades, ocupou o terceiro lugar, enquanto a Target Comex e a Toyota de Angola, com 636 e 595, respectivamente, seguem no quarto e quinto lugar dos maiores importadores de carros.
Já a liderança das importações de veículos, no primeiro semestre de 2022, foi ocupada pela Sicomex com 2.431 unidades, enquanto a Chinangol – que domina o mercado dos eléctricos – veio em segundo lugar com 1.350 veículos. A Sogepower ocupou o terceiro lugar com 1.035 carros, ao passo que, a Target Comex e a Daimic Motors com 683 e 403 viaturas, respectivamente, quedaram-se na quarta e quinta posição da lista.
São números que indicam uma recuperação e aumento da importação de viaturas pelas empresas e pessoas particulares e animam o mercado. Mesmo assim, os empresários acreditam que ainda vai demorar algum tempo para atingir os níveis de 2014, quer em termos de importação, quer em vendas. A ACETRO espera que este ano venham a ser vendidas 4.530 unidades novas de diferentes categorias, ou seja, 17% de crescimento em relação a 2021.
A recuperação do negócio dos automóveis nota-se nos stands que já apresentam mais variedades de marcas de veículos, comparativamente ao ano de 2020. A ACETRO diz que o negócio, em 2020, bateu no fundo fortemente afectado pela pandemia da Covid-19 e que agora é hora de recuperar o tempo perdido. Importadores esperam que o acesso ao crédito automóvel venha impulsionar os angolanos ao consumo.